Falar sobre integração da pessoa com deficiência pode parecer um tema já batido. Mas, nota-se ainda a importância do tema para que os dias sejam mais equânimes para todos, na medida do possível. Para falar um pouco sobre equanimidade, partimos do princípio de que cada jornada é única, e cada experiência é única.
Partindo disso, vamos conhecer algumas histórias, com o intuito de apresentar algumas perspectivas. Assim, podemos também refletir como nós, no dia a dia, podemos ter ações mais inclusivas. Conversamos com o Analista de Tecnologia da Informação, Renato Júnior Justin Rosa e com o Auxiliar Administrativo Matheus Baldin, para conhecer as trajetórias e trazer um pouco de reflexão sobre o tema.
Como tudo começou
“Minha história se inicia através de um erro médico ainda quando estava na barriga de minha mãe. Pelos exames, nasceria sem qualquer “anomalia”, se assim posso dizer. Porém, nasci com uma atrofia rara nos membros inferiores. Que não me tirou as movimentações, mas que impedia de ficar em pé. Então, acabei passando os seis primeiros anos de minha vida em um hospital. Foram diversas cirurgias nesse tempo e nenhuma surtiu efeito. Então, meus pais resolveram desistir dessa ideia e seguimos a vida”, conta Renato.
“Eu era muito pequeno, mas lembro dos meus pais o tempo todo lá e era um sofrimento grande para eles. Meu pai tirava férias e passava o tempo todo lá comigo. Minha mãe também e lembro da tristeza dela a noite, pois como tínhamos praticamente se mudado para o hospital ela não podia dormir comigo no quarto e eu também sofria, pois, ficava ali sozinho à mercê de enfermeiras que xingavam as crianças por chorar. Num escuro atordoante. Quando completei seis anos, então, voltamos para casa”, relembra Renato.
Entendo meus pais fazerem todo esse esforço ainda mais em um mundo que sabemos que tudo é mais difícil para quem tem alguma limitação, seja leve ou não. Dali em diante vida normal. Minha primeira cadeira de rodas foi um skate de um amigo meu e ali se iniciou minha paixão pelos esportes.
Matheus conta que nasceu com deficiência visual hereditária, por conta de uma falha genética na íris do olho. Com isso, algumas doenças como Catarata e outras, surgiram, resultando em uma perda visual considerável. “Convivi sempre entendendo que não enxergava como os demais, minha mãe sempre buscou tratamentos e assistência para para minha adaptação e desenvolvimento. Diante de preconceitos e discriminação sempre me mantive firme e busquei mostrar minhas qualidades”, explicou.
Na educação a adaptação foi complicada devido a falta de suporte. “Estudei meu ensino fundamental em escola pública mas sem muita assistência, passando assim por algumas dificuldades, mas minha mãe sempre buscou apoio para me auxiliar. O ensino médio estudei em uma escola onde tive suporte de uma sala de recursos para adaptação do material de estudos. Iniciei minha graduação em Educação Física que está em andamento”, complementou Matheus.
Profissionalmente nunca tive dificuldades, sempre busquei mostrar minhas capacidades e como posso ser um bom profissional e assim tendo sempre o reconhecimento de meus gestores.
Paralelamente sou atleta de Judô Paralímpico e de Corrida de Rua.
Dificuldades no caminho
A acessibilidade, ou a falta dela, pode ser um dos principais pontos que atrapalham na rotina da pessoa com deficiência. Desde cedo e continuamente, a adaptação se torna uma das principais ferramentas de quem necessita de acessibilidade. Além de vencer as situações, em alguns casos, vencer a si mesmo também faz a diferença.
Para Matheus, o que chama a atenção é a falta de acessibilidade em locais públicos e privados para livre acesso. Mesmo estando incluso na legislação federal há mais de vinte anos, ainda é notável a quantidade de limitações que alguns públicos ainda sofrem. “Atualmente como pessoa com deficiência visual a grande dificuldade é a falta de acessibilidade dos espaços públicos e privados para nosso livre e independente deslocamento, como ruas, prédios e transporte”, reforça.
Já internamente, os conflitos surgem de diversas formas. Isso porque é de extrema importância que cada pessoa se conheça, conheça sua realidade, limitações e respeite isso. Como também pratique o conhecer e entender a realidade do outro, respeitando e identificando suas qualidades e limitações. Conforme explica Matheus, “A forma de tratamento da sociedade que muitas vezes nos veem com coitados e inválidos sem perceber nossas capacidades”.
A primeira dificuldade a ser resolvida é internamente. Entender que o mundo não é um “morango” e seguir criando histórias. Digo isso, pois as pessoas com deficiência elas mesmas se limitam a um extremo onde não vivem e simplesmente esquecem delas próprias. Nada me impede de fazer o que eu gosto ou quero. Indiferente se a sociedade está preparada ou não. A ideia é essa. Colocar a “cara” pra fora de casa e fazer o mundo entender na marra que estamos aqui. Em termos de sociedade muita coisa precisa ser melhorada, desde acessos, transporte público e por aí vai. Mas só irá melhorar se as pessoas se fazerem presentes.
Renato
Qualidade de vida em foco
Buscar bem-estar e saúde traz diversas benefícios a qualquer um. Por isso, Renato e Matheus optaram por incluir atividades físicas em suas rotinas. Além de tornar a vida mais prazerosa, também mostra as capacidades de superação de cada um.
Sou atleta de Judô do Sesc Protásio Alves, utilizo a sala de treinamento, pretendo utilizar a academia e pista de corrida para complementar nos treinos. Participo das Corridas de Rua do Sesc. Participar das atividades do Sesc que proporcionam qualidade de vida e saúde. Então, o Sesc da todo suporte de treinamento para ser um atleta de alto nível. A inclusão social e o paradesporto, dando suporte e acesso a prática de atividades físicas para pessoa com deficiência, faz com que seja uma instituição diferenciada.
Matheus
A paixão pela corrida de rua é uma das principais atividades que motivam. Além de treinar e competir nas ruas, ele também pratica musculação.
“Participo mais das corridas, já que o Sesc mantém um calendário bem extenso proporcionando poder correr em diversas épocas do ano. Tendo as corridas Sesc e as corridas com parceiros. Para todos os gostos e sem limitações. A academia Sesc também é um serviço incrível.
Renato
Inclusão como prática diária
Pensando na prática, como realizar integração da pessoa com deficiência, automaticamente precisamos pensar em acessibilidade. Porém, para quem não vivência as dificuldades, fica mais difícil imaginar soluções. Por isso, em diversos projetos de esportes, cultura, educação e lazer do Sesc RS, existem propostas de integração.
Além do Circuito Sesc de Corridas que permite a participação de pessoas com mobilidade reduzida ou deficiências sensoriais, outros projetos incluem propostas para pessoas com deficiência como o Festival Internacional Sesc de Música, com tradução em libras das atividades e livretos em braile, a Formação Esportiva, o Dia do Desafio e o Estação Verão Sesc que tem atividades para pessoas com deficiência e ações de conscientização para público geral.
“Nossa função é cuidar, emocionar e fazer pessoas felizes, e se não der para incluir todos, não estaremos realmente cumprindo. Desde 2013, conseguimos a inclusão do banho acessível no Estação Verão, que permite que a pessoa com mobilidade reduzida possa tomar banho de mar”, explica a gerente interina de Esporte, Lazer e Turismo do Sesc RS, Melissa Stoffel. “Estamos com muita programação de conscientização e atividades inclusivas sendo realizadas nos projetos, mostrando que é possível sim sermos mais integrados. E fica o convite para que todos participem”, finalizou.
Conclusão
Sabendo isso, o que podemos fazer para tornar a realidade mais justa de acordo com a visão de cada um? Saber e reconhecer as diferenças que temos entre nós, abrir espaços para que as pessoas possam se expressar na sociedade, realizar capacitações e ações integrativas, podem ser algumas opções.
Os espaços e as atividades de lazer, cultura e educação não podem ser excludentes, então que possamos cada vez mais realizar em conjunto. E para quem ainda tem dúvidas de que a rotina possa ser mais feliz, Renato mandou o recado: “Viva ao máximo, aproveite as oportunidades e crie belas histórias. Não levaremos nada desse mundo a não ser as nossas lembranças. E que sejamos uma ótima lembrança para as pessoas que nos rodeiam”, concluiu.