Depois de mais de um ano de medo e incertezas, estamos experimentando a retomada de algumas atividades presenciais. Como manter dias de leveza e felicidade pós-covid em um cenário que ainda exige cuidado?
26 de fevereiro de 2020. Nesta data, se confirmou o primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Vinte dias depois, foi constatada a primeira morte e, três dias após, o Ministério da Saúde emitiu a portaria que declarou transmissão comunitária em todo País. Rapidamente, o então “novo” coronavírus deixou de ser uma ameaça à saúde pública e se tornou uma realidade. Os números passaram a ser alarmantes e um período de medo e incertezas, como há gerações não se vivia, tomou conta da vida das pessoas.
Nesse cenário, o Brasil e o mundo passaram a conviver com um “novo normal”, marcado pelo isolamento social, pela presença do on-line e por relações mais virtuais do que presenciais. A rotina mudou e, do dia para a noite, as pessoas tiveram que aprender a trabalhar, estudar, fazer exercícios físicos, consultas médicas, compras e estabelecer conexões sociais sem sair de dentro de casa.
Viver feliz no pós-covid
Um ano e meio depois, ficamos em um momento de retornos, seja para o trabalho presencial, às salas de aula e reencontros com amigos que não víamos há bastante tempo. Já temos vacinas desenvolvidas, um calendário de imunização em andamento e os números começam a ser mais amenos e animadores. Porém, muitos perderam pessoas próximas, foram acometidos pela doença e convivem com sequelas. Neste ponto específico, já se fala em Síndrome Pós-Covid, Covid Prolongada ou Long Covid, que são um conjunto de sintomas relatados por pacientes infectados.
Voltar à realidade que vivíamos antes da chegada do vírus é desafiadora e exige cuidados com a saúde física e mental. O cenário complexo que se estabeleceu faz com que os sentimentos de alegria e medo se misturem. Diante disso, como lidar com os efeitos da nova rotina e ter dias de mais leveza e felicidade pós-covid?
Retomada também significa mudança
Desde o início da pandemia, a saúde mental e o autocuidado estão no centro dos debates. Hoje, com a retomada de algumas atividades presenciais, é importante olhar com carinho para os sentimentos que estão surgindo. O que não podemos descartar é que, embora seja positivo, o retorno também representa um cenário de mudança.
“Aos poucos, estamos retomando nossa rotina. As escolas passam a receber seus alunos, tendo algumas adaptações em sala de aula e na dinâmica das atividades. O trabalho, para alguns, já não ocupa mais o cômodo da casa, tem seu retorno ao ambiente externo. Mas mesmo tudo voltando a se reorganizar, dentro do possível, para algumas pessoas tudo ainda é muito incerto e desconfortável frente à exposição”, afirma a psicóloga do Sesc Lajeado, Brenda Borges Schmitt. A profissional explica:
“Toda mudança repentina pode gerar algum impacto na vida das pessoas, e cada uma vai lidar de forma diferente, por isso retornar às atividades pode ser algo que tenha que se fazer respeitando seu próprio tempo e limite, é uma readaptação”.
Tente deixar o passado de lado
A Neurociência estuda o funcionamento do cérebro e suas implicações no comportamento dos seres humanos. Autores dessa área indicam que, para lidar com mudanças, de forma geral, o cérebro humano necessita se reprogramar. Isso ocorre porque nosso sistema emocional distingue o que são ameaças e o que são oportunidades. Ou seja, o cérebro precisa enfrentar os desafios impostos pelo ambiente em que vivemos para visualizar um cenário positivo e desenvolver mecanismos para lidar com as novas situações.
Para “virar a chave” de qualquer cenário de mudança, seja ele negativo ou positivo, é preciso acreditar que existem novas formas de se relacionar dali para frente e construir uma relação mental com o que está acontecendo. Isso permite que o cérebro desenvolva recursos diante da sua própria limitação e se condicione a deixar o passado e viver o presente.
Acredite: a pandemia nos tornou mais resilientes
A Covid-19 fez com que tivéssemos que nos adaptar a algo totalmente desconhecido. Embora essa realidade tenha despertado emoções negativas e sentimentos ruins, nos mostrou que somos adaptáveis e capazes de lidar com cenários adversos.
“Nossa rotina de trabalho e estudos sofreu modificações, a sala de aula e o ambiente de trabalho se tornaram o mesmo espaço que o nosso lar. Tudo isso trouxe à tona um cenário de muita incerteza, revelou nossas vulnerabilidades, fragilidades, medos e perdas. Mas também trouxe à superfície a nossa capacidade de resiliência”, acrescenta Brenda.
Ela explica que o retorno ao contato social e às atividades presenciais pode ser mais impactante para alguns, tornando-os mais sensíveis a essa exposição e ao contato com outras pessoas. O isolamento social teve impactos relevantes na saúde mental e é preciso reaprender a estabelecer relações com a gente mesmo e com as outras pessoas:
“Estamos recomeçando, aprendendo a nos fortalecer, a pôr em prática nossas habilidades e competências socioemocionais. Esse longo isolamento e as inúmeras notícias também causaram alguns impactos na capacidade das pessoas se relacionarem, de exercitarem a empatia, na sobrecarga emocional e psicológica”.
Ainda assim, é preciso lembrar que somos seres sociais e que o contato com o outro é algo inerente e natural a cada um de nós. Se por um lado pode surgir o medo de quebrar as barreiras que o isolamento nos impôs, por outro, há a alegria do reencontro pós-covid, da troca, do olho no olho (sem o intermédio de telas). Tente focar nos sentimentos bons que o novo cenário traz e os aprendizados do último ano.
Síndrome da Cabana? Calma, isso é normal!
Sentimentos de angústia, medo de sair, de ter contato social, mudanças de comportamento, alterações emocionais, desconfiança sobre o externo e o futuro. Alguns especialistas relacionam o período de isolamento social com a Síndrome da Cabana. Esse termo surgiu em 1900, nos Estados Unidos, para explicar um problema que acontecia quando trabalhadores passavam longos períodos em cabanas esperando o inverno passar e, após algum tempo isolados, tinham receio de sair de casa.
Embora tenha o nome de Síndrome, não confunda: é normal se sentir assim! “É muito importante frisar que essa síndrome não é um distúrbio psicológico e sim um fenômeno natural do nosso corpo, frente a mudanças bruscas de comportamento que o indivíduo está enfrentando. E levando em consideração o atual cenário que vivemos de uma pandemia, essa sensação se intensifica ainda mais, levando em conta todos os cuidados que precisamos ter”, informa Brenda.
Confira dicas para ter momentos de leveza no pós-covid:
- Ter uma rotina pode contribuir no processo de reorganização das atividades. Comece com coisas que considera serem simples, como hobbies;
- Não esqueça: atividade física é uma boa aliada para o bem-estar!
- Respeitar seu próprio tempo é muito importante, pois estamos mais sensíveis ao momento que estamos vivendo. Faça aquilo que você consegue fazer nesse momento, respeite seu ritmo, foque no que está no seu controle;
- Estabelecer prioridades profissionais, pessoais e pausas podem ajudar também;
- No que diz respeito ao trabalho, tanto para quem foi afastado como quem trabalhou em home office, poder retomar as atividades de forma gradual pode contribuir muito para a saúde mental, para que possa se sentir pertencente novamente ao grupo;
- Tenha uma rede de apoio, amigos, familiares com quem você possa contar;
- Para as empresas é importante ter em mente como essa retomada pode impactar na vida do trabalhador. Palestras, rodas de conversas e suporte psicológico podem contribuir no acolhimento;
- Busque ajuda profissional: a terapia pode auxiliar nesse processo e ser um suporte muito significativo para a saúde mental e emocional.
Além disso, volte com cuidado e se vacine!
Estamos retomando as atividades, mas ainda não é o momento de deixar o cuidado e as medidas de proteção de lado, como utilizar álcool em gel com frequência, usar máscara de proteção e redobrar a atenção com a saúde. Também é importante lembrar sobre a importância da vacinação contra a Covid-19.
As estatísticas mostram que, entre os públicos que já aderiram, em especial os mais idosos, as taxas de contaminação e os quadros graves estão em queda.
“Isto mostra que estamos no caminho certo quando insistimos para que todos estejam atentos em suas cidades à organização da campanha e que se vacinem quando chegar sua vez”, diz a gerente de Saúde do Sesc/RS, Mari Estela Kenner.
“Esta sensação de que a pandemia passou é um risco pra nós. É essencial mantermos os cuidados e não baixar a guarda para o vírus, que ainda circula e é perigoso. Estamos podendo voltar à rotina de trabalho e circulação social, mas precisamos fazer isso com muita atenção e cuidado”, acrescenta Mari Estela.
Com saúde e felicidade pós-covid
Saúde e felicidade andam juntos no período pós-covid. Nos dias 3, 4 e 5 de agosto um evento on-line e gratuito debaterá o tema Saúde para a Felicidade. O ciclo de palestras será transmitido no canal do Sesc/RS no YouTube e propõe a adoção de novas perspectivas e condutas no período pós pandemia, promovendo informação, cuidados e esperança para o início de um novo ciclo.
Os palestrantes confirmados são o infectologista André Siqueira, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/ Fiocruz); o nutricionista João Motarelli, que abordará aspectos relacionados ao mindfulness e mindful eating; e a psicóloga Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência, centro de formação sobre temas como bem-estar, falará sobre saúde mental, felicidade, liderança e sustentabilidade.
Mais informações podem ser obtidas no site. No mesmo link, é possível se inscrever para receber conteúdos sobre o evento.