Reunimos algumas leituras para quem quer conhecer o mundo sem precisar sair do lugar. As dicas são de obras que reúnem histórias, cultura e literatura de diversos lugares do mundo. Além de trazer as diferenças culturais, através da leitura também vemos as semelhanças entre personalidades e sonhos.
Selecionamos alguns livros com a ajuda da bibliotecária da Gerencia de educação, assistência e cultura do Sesc, Mary Nice Branchi de Souza. Através deles, mais do que conhecer algo novo, diversos autores selecionados fazem o leitor se reconhecer. Pelas histórias que compõem a humanidade, de amores, dores, vontades e desalentos.
De cada uma das obras, a garantia de uma viagem única que vai marcar o leitor. Então prepare o chá, aconchegue-se no sofá e vamos às obras:
Leitura para começar
Alguns livros selecionados são leituras que não vão ser buscadas num primeiro momento, mas organizamos a lista de acordo com facilidades que podem te ajudar nessa viagem.
Persépolis – Irã
Persépolis traz uma história em quadrinhos, com um contexto histórico. Os artifícios gráficos vão fazer o leitor se encantar pela trajetória que se passa no Irã. Mariane Satrapi nasceu em 1969, e devido a origem familiar, seu texto mistura a tradição da cultura persa com valores ocidentais de liberdade. A leitura reúne ternura e o drama de uma menina que cresce em um ambiente confuso e opressor. Mesmo assim, consegue encontrar momentos de leveza e humor.
Apresentação
Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita – apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.
Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.
Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama – e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.
Fantasia
Vamos seguir na ordem de obras que fazer a imaginação aflorar. A próxima dica é daquelas que faz o leitor fechar o livro momentaneamente para terminar de elaborar a cena descrita pela autor.
Deuses Americanos – Estados Unidos
Para vivenciar realidades alternativas, além de conter registros de histórias clássicas americanas, indicamos a leitura de Deuses Americanos. A obra de Neil Gaiman já foi retratada em uma série da Netflix que permitiu concretizar um pouco do imaginário do autor. Ainda assim, a riqueza de detalhes do livro e a composição complexa das personagens podem ser uma viagem e tanto.
Este é um livro para quem curte leituras extraordinárias. Ou melhor, para quem quer ler e construir um novo mundo na própria imaginação. Claro, com referências e contexto da cultura americana.
Apresentação
A saga de Deuses americanos é contada ao longo da jornada de Shadow Moon, um ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de ser libertado e cujo único objetivo é voltar para casa e para a esposa, Laura. Os planos de Shadow se transformam em poeira quando ele descobre que Laura morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem emprego e sem rumo, ele conhece Wednesday, um homem de olhar enigmático que está sempre com um sorriso no rosto, embora pareça nunca achar graça de nada.
Depois de apostas, brigas e um pouco de hidromel, Shadow aceita trabalhar para Wednesday e embarca em uma viagem tumultuada e reveladora por cidades inusitadas dos Estados Unidos, um país tão estranho para Shadow quanto para Gaiman. É nesses encontros e desencontros que o protagonista se depara com os deuses – os antigos (que chegaram ao Novo Mundo junto dos imigrantes) e os modernos (o dinheiro, a televisão, a tecnologia, as drogas) -, que estão se preparando para uma guerra que ninguém viu, mas que já começou. O motivo? O poder de não ser esquecido.
O que Gaiman constrói em Deuses americanos é um amálgama de múltiplas referências, uma mistura de road trip, fantasia e mistério – um exemplo máximo da versatilidade e da prosa lúdica e ao mesmo tempo cortante de Neil Gaiman, que, ao falar sobre deuses, fala sobre todos nós.
Contexto
As próximas dicas de leituras são para quem busca entender mais de contextos históricos. Viajaremos entre histórias da América Latina, Ásia, África e Europa.
Cem Anos de Solidão – América Latina
O escritor colombiano, Gabriel García Marquez lançou o livro em 1967, em Buenos Aires – Argentina. Em 1982 a obra, que é considerada uma das leituras mais importantes e representativas da América Latina, ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Hoje em dia, é uma das obras mais lidas e traduzidas do mundo.
O autor trabalha o realismo mágico, misturado com romance histórico, para criar uma aldeia fictícia no centro-sul do continente americano. Há quem compare o estilo desta obra a Dom Quixote, por utilizar os artifícios do imaginário através da realidade mais banal.
Apresentação
Em Cem anos de solidão, um dos maiores clássicos da literatura, o prestigiado autor narra a incrível e triste história dos Buendía – a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” e apresenta o maravilhoso universo da fictícia Macondo, onde se passa o romance. É lá que acompanhamos diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo. Para além dos artifícios técnicos e das influências literárias que transbordam do livro, ainda vemos em suas páginas o que por muitos é considerado uma autêntica enciclopédia do imaginário, num estilo que consagrou o colombiano como um dos maiores autores do século XX.
Em nenhum outro livro García Márquez empenhou-se tanto para alcançar o tom com que sua avó materna lhe contava os episódios mais fantásticos sem alterar um só traço do rosto. Assim, ao mesmo tempo em que a incrível e triste história dos Buendía pode ser entendida como uma autêntica enciclopédia do imaginário, ela é narrada de modo a parecer que tudo faz parte da mais banal das realidades.
Gabo, apelido de Gabriel García Márquez, costumava dizer que todo grande escritor está sempre escrevendo o mesmo livro. “E qual seria o seu?”, perguntaram-lhe. “O livro da solidão”, foi a resposta. Apesar disso, ele não considerava Cem anos sua melhor obra (gostava demais de O outono do patriarca). O que importa? O certo é que nenhum outro romance resume tão completamente o formidável talento deste contador de histórias de solitários – que se espalham e se espalharão por muito mais de cem anos pelas Macondos de todo o mundo.
Cem anos de solidão é uma obra grandiosa e atemporal, sobre a qual é possível construir diversos paralelos com a nossa própria existência.
Inés de Minha Alma – Chile
Seguindo um pouco mais pelas estradas da América Latina, nosso roteiro de leitura agora leva a um romance épico. O livro trata do contexto politico cultural do século 16. Esqueça todo o encanto e delicadeza das vestes desta época e prepare-se para descobrir a história de personagens fortes e sagazes. Apesar de ser um livro de ficção, Isabel Allende faz com que o leitor fique sedento por um pouco mais de história a cada página.
Apresentação
Inés da Minha Alma, de Isabel Allende, é um romance épico no qual o alento do amor concede uma trégua à rudeza, à violência e à crueldade de um momento histórico inesquecível. Inés Suárez (1507-1580) é uma jovem e humilde costureira que embarca da Europa ao Novo Mundo em busca de seu marido, que desapareceu junto de seus sonhos de glória do outro lado do Atlântico, e acaba se tornando um dos principais nomes da conquista do Chile. Através da pena da mais famosa escritora latino-americana da atualidade, se confirma que a realidade pode ser tão surpreendente quanto a melhor ficção – e igualmente cativante.
As alegrias da maternidade – Nigéria
Continuando nossa viagem, a parada agora é na Nigéria. A personagem principal sofre a pressão cultural que reverbera em praticamente todo mundo, mas que tem maior peso dependendo do contexto. Neste caso, estamos falando sobre a feminilidade associada a maternidade. O ambiente do livro e as personagens demarcam bem o contexto local e o poder cultural sobre as pessoas. A leitura As alegrias da maternidade traz reflexões sobre o papel social de mãe, filha, esposo, pai entre outros papéis em que nos ajustamos para o bom convívio. Além de propor uma revisão sobre nossos próprios sonhos.
Apresentação
Nnu Ego, filha de um grande líder africano, é enviada como esposa para um homem na capital da Nigéria. Determinada a realizar o sonho de ser mãe e, assim, tornar-se uma “mulher completa”, submete-se a condições de vida precárias e enfrenta praticamente sozinha a tarefa de educar e sustentar os filhos. Entre a lavoura e a cidade, entre as tradições dos igbos e a influência dos colonizadores, ela luta pela integridade da família e pela manutenção dos valores de seu povo.
Istambul
Este livro é para quem gosta de ficar reunindo informações, fatos históricos e conferindo imagens do passado. A obra tem a lente ampliada sobre o Edifício Pakmuk e sua proximidades. Mas consegue abranger relações entre ocidente e oriente. A história é um misto entre realidade e ficção, permitindo que a criatividade e a perspectiva do autor toque o leitor profundamente.
Apresentação
Istambul – antiga Constantinopla, sede do Império Bizantino – é uma cidade encravada no meio do grande dilema que se apresenta para a humanidade neste início de século – o encontro entre Ocidente e Oriente. A secularização promovida por Atatürk – herói nacional e fundador da Turquia moderna, em 1923 – baniu as roupas típicas, coibiu costumes milenares e transformou progressivamente o panorama local. Para Orhan Pamuk, que nasceu e passou toda a sua vida na cidade, embora os habitantes tenham cumprido as novas regras, no espírito do povo turco essa operação nunca se completou. Entre a modernização crescente e o apego ao passado, entre ter sido um império e conhecer a decadência, criou-se nos habitantes um sentimento de melancolia que permeia toda a cidade, e também este livro. Sem nunca se ater a um gênero específico, ‘Istambul’ é parte autobiografia, parte ensaio e parte elegia. Nele, Pamuk traça uma história afetiva de sua cidade e revela os personagens, as ruas e os becos, os grandes e os pequenos acontecimentos que definiram sua vida. O centro de tudo é o Edifício Pamuk, construção que no início da década de 50 abrigava, espalhada em seus andares, toda a família do autor. Circulando pelos corredores do edifício, o pequeno Orhan tenta dar sentido a coisas que vê, mas não entende por completo – as ausências do pai, as fotografias espalhadas pela avó, o indefectível piano que todos seus parentes têm nas casas, mas que nunca tocam. Conforme cresce, ele ganha as ruas, em longos e solitários passeios, e começa a se impregnar dessa tristeza coletiva que assombra a cidade. Mas, ao mesmo tempo em que de certo modo o oprime, Istambul fornece um repertório de imagens – as casas na beira do Bósforo, os incêndios das mansões dos paxás, as enciclopédias de curiosidades compradas em sebos – que para ele ganham enorme força simbólica, e que estarão sempre presentes em sua obra. Pamuk tira da cidade a experiência que o conduziu à arte.
Vozes de Tchernóbil – Ucrânia
Um dos registros mais tocantes sobre consequências de quando só pensamos em poder. Esta leitura traz o registro histórico de uma das catástrofes mais impactantes do mundo. Uma história que inicia nos anos 80 e que tem consequências reverberando até os dias de hoje. Além dos registros do acidente da usina nuclear de Tchernobil, a leitura do livro traz com um contexto político e os impactos sociais do desastre.
Apresentação
Em 26 de abril de 1986, uma explosão seguida de incêndio na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia – então parte da finada União Soviética -, provocou uma catástrofe sem precedentes em toda a era nuclear: uma quantidade imensa de partículas radioativas foi lançada na atmosfera da URSS e em boa parte da Europa. Em poucos dias, a cidade de Prípiat, fundada em 1970, teve que ser evacuada. Pessoas, animais e plantas, expostos à radiação liberada pelo vazamento da usina, padeceram imediatamente ou nas semanas seguintes. Tão grave quanto o acontecimento foi a postura dos governantes e gestores soviéticos (que nem desconfiavam estar às vésperas da queda do regime, ocorrida poucos anos depois). Esquivavam-se da verdade e expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os serviços de reparo na usina. Pessoas comuns, que mantinham a fé no grande império comunista, recebiam poucas informações, numa luta inglória, em que pás eram usadas para combater o átomo. A morte chegava em poucos dias. Com sorte, podia-se ser sepultado como um patriota em jazigos lacrados. É por meio das múltiplas vozes – de viúvas, trabalhadores afetados, cientistas ainda debilitados pela experiência, soldados, gente do povo – que Svetlana Aleksiévitch constrói esse livro arrebatador, a um só tempo, relato e testemunho de uma tragédia quase indizível. Cenas terríveis, acontecimentos dramáticos, episódios patéticos, tudo na história de Tchernóbil aparece com a força das melhores reportagens jornalísticas e a potência dos maiores romances literários. Eis uma obra-prima do nosso tempo.
Negra – Brasil e Continente Africano
Para ir muito além de um período único e de um só contexto, também buscamos leituras que vão agregar um valor inestimável ao seu roteiro. O livro Negra faz a ponte entre nossas heranças culturais e o passado nativo em África. Essa viagem às origens pode mexer muito com a emoção do leitor. Mas o resgate dessas histórias afro-brasileiras é uma reconexão importante e que inclusive podem nos fazer perceber melhor a nossa própria cultura.
Apresentação
Nesta Enciclopédia negra, Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz passam em revista a história do Brasil, da colonização aos dias atuais, a fim de restabelecer o protagonismo negro. E o fazem alcançando o que há de singular, multifacetado e profundo na existência particular de mais de quinhentos e cinquenta personagens.
São profissionais liberais; mães que lutaram pela alforria da família; ativistas e revolucionários; curandeiros e médicos; líderes religiosos que reinventaram outras Áfricas no Brasil, pessoas cujas feições foram apagadas pela história. Por isso, 36 artistas negros, negras e negres criaram retratos inspirados pelos verbetes desta enciclopédia, aqui reunidos em um belíssimo caderno de imagens.
Em um momento de produção e disseminação errática de informações, esta obra contribui para conformar um seguro repositório de experiências individuais e coletivas às quais ― como pessoas e como sociedade ― podemos recorrer em busca de inspiração e orientação.
Conclusão
Neste post propomos a viajar pelo mundo da leitura. Aqui falamos de histórias que compõe um pouco da história e da cultura mundial. Essas dicas foram reunidas com auxílio da Biblioteca do Sesc. E assim como aqui foi difícil parar de colocar recomendações de leituras, também foi complicado escolher os livros devido tantas opções legais na biblioteca.
O mundo da leitura é o mais democrático de todos. E se aqui você não encontrou o que gostaria, a visita a biblioteca vai ser uma boa saída. Para que curtiu as histórias recomendadas, comenta com a gente qual leitura você mais gostou. Lembrando que a cada leitura surgem descobertas, aprendizados e fazem com que você se conheça melhor a cada dia. Por isso, recomendamos que a leitura faça parte da sua rotina.